A cerâmica de Nakatani destacou-se pelo marcante e áspero individualismo de sua forma. Assimétrica, descontínua, associada às formas orgânicas não reconhecíveis, a sua cerâmica evocava memórias do deserto. E, em outra vertente, com o registro gráfico de uma escrita ficcional em formas harmoniosas, remetia para a ancestralidade, civilizações míticas, um universo intuído e para sempre desaparecido.
Nestas duas vertentes básicas – o orgânico e a inscrição mítica – ambas ficcionais, Akinori Nakatani desenvolve o seu trabalho. É um artista inteiramente voltado para o silêncio, imerso na atenção que dedica à sua percepção, aos sons e imagens que percebe e que corporifica em parceria com o fogo. Esse é, na verdade, o seu processo: escutar e ver fragmentos, intuir o significado destes recortes, encontrar o seu equivalente em barro e esperar que o fogo do forno tradicional lhe ajude a escolher a epiderme certa.
Nesses seres da imaginação existe a infinita delicadeza dos azuis, dos violetas que afloram, das silhuetas inesperadas. E existe, de maneira incisiva, uma personalidade marcante, uma forma única, alguma coisa que nos diz que não poderia ser diferente do que é. Penso que Akinori Nakatani consegue a medida justa, o ponto exato em que um ser da imaginação adquire vida própria. Não é pouco para um artista.
Nas cerâmicas atuais, além da beleza espiritual dos cinzas, azuis e violetas, o artista acrescenta pequenas narrativas fantásticas, escadas e homens, metafísicas inconclusas, enigmas e lendas. Fragmentos de um mundo ao qual só Nakatani tem acesso. Vislumbres para a nossa contemplação. A cerâmica de Akinori Nakatani: erosão e gênesis.
Jacob Klintowitz